Trata-se de um projeto inovador, baseado em conhecimento científico lançado recentemente (2014), sobre os benefícios da interação com a WEB, mas ao mesmo tempo, reflete os perigos na redundância da informação que nos é fornecida, tendo como conceitos chave: a emoção surpresa e a novidade!
Num investimento ambicioso e profissional, a Zunzum reúne uma equipa numerosa que tem vindo a trabalhar desde maio, com o objetivo de partilhar com o seu público um espetáculo único e irreverente.
Texto criado a partir da tese de doutoramento, EMOTIONS AND RECOMMENDER SYSTEMS: A SOCIAL NETWORK APPROACH, Carlos Figueiredo, 2014.
DA TESE PARA A BOCA DE CENA
“As empresas de media digital estão a usar dados de redes sociais para personalizar serviços baseados na Web (por exemplo, busca e recomendação) para servir e envolver a sua audiência de forma mais eficaz e relevante. Porém, esta prática está a diminuir a diversidade de pontos de vista na comunidade de utilizadores Web dada a falta de novidade nos resultados entregues. Assim, o uso actual de dados sociais baseados em relações estabelecidas por efeitos endógenos (ou seja, homofilia) e amizade ou proximidade social (ou seja, laços fortes) criam um efeito de Câmara de Eco Social que aprisiona as pessoas dentro de bolhas sociais de informação. Por consequência, em vez de inovação, há uma redução de qualidade nos serviços prestados por sistemas de recomendação, e assim, um baixo nível de satisfação dos seus utilizadores. A questão que se coloca é, como beneficiar da riqueza dos dados sociais evitando o efeito de Câmara de Eco Social e gerar entrega de novidade?
Os resultados da dissertação, defendida a 14 de dezembro de 2014 na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, mostram que o desempenho dos sistemas de recomendação baseados em redes sociais pode ser melhorado através da entrega de recomendações novas e surpreendentes com base na previsão, e não na aleatoriedade, o que evita o efeito de Câmara de Eco Social. A dissertação chama a atenção para o fato de que os dados sociais podem ser usados para aumentar as distâncias cognitivas entre os utilizadores da Web, o que permite lidar com um conjunto de novas ameaças (por exemplo, ao nível da democracia / tolerância, conformidade, cognição, e da inovação “fluffy”), que têm sido impostas por alguns algoritmos Web.”
Carlos Figueiredo
sinopse
Estas coisas que por aqui se vão vendo só acontecem no mundo digital que fica longe e é um sítio perfeitamente delimitado no espaço. Assim, estas questões circunscrevem-se a esse território e dizem respeito apenas aos nativos desse sítio. Qualquer semelhança com a realidade que detetem é mera coincidência… Você é um dependente digital?
ficha artística
- TEXTO: Fernando Giestas
- CONCEÇÃO, DIREÇÃO E ESPAÇO CÉNICO: Fraga
- ASSISTENTE DE ENCENAÇÃO: Mariana Veloso
- CONSTRUÇÃO DE CENÁRIOS: oficina Zé ferreiro
- FIGURINOS E ADEREÇOS: Daniela Fernandes
- DESENHO DE LUZ: Rui Pêva
- VÍDEO: Ricardo Röseler
- ATORES: André Ferreira, Carlos Cruchinho, Lia Cruz, Joana Sevivas, Jorge Justo, Patrick Olufson, Ricardo Röseler
- IMAGEM: Oscar Sánchez Requena
- PRODUTOR EXECUTIVO: Carlos Figueiredo
- PRODUÇÃO: Teatro Onomatopeia, 2015, Z1Z1-AC
o que dizem
Texto de Filipa M. Ribeiro, 29 de dezembro, 2015
Rete rerum
Se para a faixa etária adolescente já existem vários estudos a documentar o efeito das redes sociais nos petizes, o mesmo não se pode dizer para…cada um de nós.
Podemos sempre escolher a evasiva “é complicado”. Felizmente, houve uma equipa de dramaturgos que não se assustou com a complexidade da questão e pegou num texto realmente denso: uma tese de doutoramento que tratou assuntos tão desafiantes como sistemas de recomendação, redes sociais e emoções.
A tese resultou de 4 anos de investigação de Carlos Figueiredo, e os trabalhos de Fernando Giestas (escrita) e de Jorge Manuel Fraga (direcção) são absolutamente notáveis. Giestas e Fraga tiveram os insights de um sociólogo, o olho de um repórter, a astúcia tecnológica e a arte teatral para conseguir esta paródia indispensável dos nossos hábitos em rede(s). Astuta e provocadora, a peça está impecavelmente pesquisada e escrita, corajosamente representada e é essencial para qualquer pessoa com interesse em media digitais e relações sociais.
Parafraseando Barthes que dizia, “pelas minhas lágrimas conto a minha história?”, podemos questionar se pelas nossas interacções, de gostos e não gostos, de posts e comentários, de subscrições e aplicações, de amigar ou desamigar, contamos a nossa história. Conta o semiólogo que as pessoas do século XVIII choravam no teatro.
Também Agostinho dizia que assim acontecia no teatro dos primeiros séculos da era dita cristã. Se as lágrimas se transformaram num elemento kitsch de um sentimentalismo vazio de TV, é legítimo perguntar, ainda parafraseando Barthes, em que tempo e em que sociedade se gosta ou não gosta? E por que se transformou a sensibilidade (e a intelectualidade) em pieguice partilhada num click? Seria precisa uma horda de sociólogos para responder a isto, mas um dos grandes méritos da peça Câmara de Eco é que consegue fazer-nos rir de nós próprios, de todos nós, quer usemos redes sociais ou não. E castigat ridendo mores, já nos mostrou Gil Vicente.
Este é, pois, um segundo grande mérito desta obra teatral: faz-nos questionar sobre o que fazemos nessa plataforma em que também vivemos: o online. Porque a verdade é esta: todos vivemos em redes sociais, com ou sem facebook. Sabe-se que o comportamento social é adaptativo, que o mimetismo domina as nossas relações e aprendizagens e as redes sociais apenas expõem essa forma de ser, exacerbando-a. Usamo-las, às redes, para o que gostamos, para o que não gostamos, para o que criticamos, elogiamos, defendemos ou repudiamos. Mas raramente as usamos para nos conhecermos. Já nos perguntámos como é que o Facebook consegue prever que duas pessoas se vão casar e quando isso vai acontecer ainda antes dos próprios começarem a namorar?
Em todo o caso, se não quisermos ver Câmara de Eco relegada para um recanto de uma penitência tecnológica, podemos ainda olhar para o pano de fundo estético sobre o qual a peça se destaca como uma insígnia. Ora, nestes confrontos algorítmicos, as nossas escolhas e emoções são mais do que uma manifestação de auto-comiseração ou torturado alheamento: são o vestígio de uma veemência íntima, o sinal de uma demanda por uma glória warholiana e uma sensualíssima fonte de prazer, como se deduz do ‘casal’ Vasco e Inês. Mas a peça tem o mérito de nos levar mais a fundo, de questionar tudo isso.
O terceiro ponto, entre muitos, é que em Câmara de Eco as experiências são virtualmente infindáveis, mas talvez não o seu sentido último: o de fazer ver, sem a compreensão turvada. Naturalmente que a estética do tecnológico, tal como apresentada na peça, ainda causa em nós estranheza, senão mesmo suspeita. Azedam os gostos e os não gostos, azedam os comentários, azeda o mais do mesmo? O nosso olhar sofisticou-se ou embotou?
Barthes nota que no filme “A Marquesa d’O” de Eric Rohmer, as personagens choram e os espectadores riem, o que talvez seja o indício de que qualquer coisa mudou imperceptivelmente. Se, como os anacoretas, escavássemos covis ou buracos na pedra, não seria para aí plantarmos gostos e não gostos. Com Câmara de Eco, o fazer teatro mudou ainda que imperceptivelmente, o teatro científico em Portugal escavou mais fundo. O espectador que vá ver Câmara de Eco ao teatro. Ria, se quiser; questione-se se puder. E surpreenda-se.
partilhamos a estória da campanha de crowdfunding
Você é um dependente digital? A “Câmara de Eco” interroga-nos sobre a realidade que nos rodeia. É ela que servimos ou é de nós que ela se serve? Ler mais (site PPL)
Bem haja por vires connosco a palco ajudando-nos a concretizar com sucesso o “Câmara de Eco”.
agradecimentos aos apoiantes da campanha de crowdfunding
A Zunzum agradece de coraZão a todos que contribuíram para o sucesso da campanha de crowdfunding, que visou a nova criação teatral “Câmara de Eco”. Listamos os nomes dos não anónimos:
Ana Pinheiro | Carlos Amaral | Carlos Couto | Carlos Figueiredo | Celeuma | Cláudia Silva | Cristina Baccari (Clínica Baccari) | Daniel Matos | David Silva |Filipa Maia | Filipa Ribeiro | Filipe Pais | João Barata | João Soares (Internacional Ótica) | José Pedro Gomes | Luís Belo | Luís Figueiredo (Fividente) | Oficina do Zé Ferreiro | Paulo Neto | Raquel Balsa | Roger | Sandra Oliveira | Sara Passos | Sofia AF | Ferreira | Viseu Social | Manuel Vidigal | Maria José Santos | Nuno Natividade | Tito Costa | TOMI World | Wenhong Chen.